Por Bruna Briti e Felipe Riela
Idosos, adultos, adolescentes e crianças reagem de maneira diferente a situações estressantes. Como cada um responde à pandemia pode depender de sua formação, da sua história de vida, das suas características particulares e da comunidade em que vive. Nos dias atuais, tem sido um desafio manter a saúde mental equilibrada devido ao prolongamento do período da pandemia e muita expectativa em relação à vacinação da Covid-19, misturada à incerteza com relação ao futuro e as restrições de aglomerações de pessoas.
O distanciamento no trabalho e no convívio entre as famílias, aumentou os sentimentos de ansiedade, medo, tédio e solidão. Lidar com este vírus invisível tem trazido prejuízos nos relacionamentos humanos, econômicos e sociais, assim como cresceu a sensação de desamparo, tristeza e impotência. A mudança na vida da população com a perda de liberdade e de empregos, algumas vezes gera raiva e desespero, que são percebidos na conduta das pessoas que negam a realidade. Também, o medo do contágio e de morrer levou pessoas a desencadear ataques de pânico e piorar doenças mentais prévias.
Os grupos que tem respondido mais intensamente ao estresse de uma crise, inclusive no Litoral Norte Paulista incluem: pessoas idosas ou com doenças crônicas que apresentam maior risco se tiverem Covid-19, profissionais de saúde que trabalham na linha de frente da pandemia, pessoas que têm transtornos mentais, incluindo problemas relacionados ao uso de substâncias tóxicas. A verdade é que, de uma forma ou de outra, essa nova realidade afeta todos.
O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante a pandemia ocorre por diversas causas, dentre elas: destaca-se a ação direta do vírus da Covid-19 no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infeção ou à morte de pessoas próximas, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social ou pelas consequências econômicas, na rotina de trabalho ou nas relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso.
Encontrando novos caminhos
O psicólogo André Rezende atua há mais de 20 anos na área, e relata o aumento na procura pela terapia online, o que traz mais segurança para as pessoas. Ele reflete também sobre a importância da sua profissão nesses tempos de incertezas: “Nós da área da saúde, em especial os psicólogos, temos esse compromisso em escutar, acolher, orientar e, tentar junto com os nossos pacientes, encontrar uma melhor maneira de lidar com o estresse, sentimentos e emoções causados pela pandemia e seus reflexos”. Segundo Rezende, estamos vivendo “a maior crise sanitária dos últimos tempos”, e a saúde mental da população não ficou ilesa. “Hoje se tornou essencial ajudar uns aos outros e procurar ajuda pra si mesmo”, expressou.
A professora de yoga kids e massoterapeuta Gleice Trindade, observa que a falta de controle nesse período abalou a percepção de realidade. “A gente tinha uma falsa ilusão de controle sobre nossas vidas. Com a pandemia, ficou muito claro que nossa vida podem ser alterada por fatores que fogem do nosso controle, inclusive para as crianças que passaram a ficar mais tempo em casa e os pais buscaram alternativas como meditação, yoga kidsc e outras atividades”, retratou. Para ela, o contato com a natureza, atividade física, música, artesanato e a prática do mindfulness (atenção plena ao momento presente) tem sido alternativas para diminuir a sensação de falta de controle e ansiedade.
O hipnoterapeuta Ricardo Giovanelli ressalta que a pandemia acelerou o uso do digital.
“Mesmo que virtualmente, estamos próximos das pessoas que amamos. Por outro lado, pode aumentar a sensação de solidão pois o celular ou computador não preenchem a necessidade da presença física. Há também uma tendência grande de ficar muito tempo nas redes sociais, e isso pode se tornar uma dependência”, enfatiza. Giovanelli aconselha olhar ao redor e conversar com as pessoas da sua convivência, trocar experiências, e encarar os sentimentos negativos como “oportunidade” de ressignificação e evolução pessoal.
Alexandre Piccioni, morador de Caraguatatuba, foi seriamente afetado pela pandemia. Ele acabou desenvolvendo uma doença chamada alopecia areata, que se caracteriza pela queda repentina de cabelo, o que fez com que ele preferisse raspar a cabeça. Seus pais, já idosos, moradores do Mato Grosso do Sul, contraíram a Covid-19, e o pai faleceu. Já a mãe descobriu um câncer e está em tratamento no momento. Tudo isso abalou o sistema nervoso de Piccioni que atualmente faz tratamento com remédios antidepressivos para encarar este momento difícil. Ele voltou a pescar, assistir séries, dentre outras ações que lhe dão ânimo e prazer.
Marcelo Souza é fotógrafo de casamento. Sua profissão foi seriamente afetada nos tempos atuais. Ele já tinha pensado em fazer terapia, mas foi nos últimos meses que “venceu o preconceito que tinha” e aceitou que precisava de ajuda. Com as incertezas, veio a ansiedade, o aumento de peso e ele decidiu se cuidar.
“Faço terapia online, o que facilitou. Em três meses, melhorei a autoestima e estou tendo uma melhor compreensão de mim e aprendendo a não me cobrar tanto. Entendi que terapia pode ser para vida toda, pois me ajudou a entender comportamentos, fatos e preocupações que antes eu não entendia”, revela Marcelo.
Com a vacinação crescente na população e estudos mais elaborados em relação ao comportamento do vírus, tudo tende a melhorar aos poucos. Com o amparo multidisciplinar da ciência, comunicação e saúde, que o passo para trás que a humanidade deu signifique dois passos para frente.