Corte de empregos em empresas metalúrgicas, fechamento de montadora com demissão em massa. Os efeitos da desindustrialização são um desafio para a economia brasileira e uma realidade também nas cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba (RMVale). Esse é o tema da pesquisa desenvolvida por professores da Universidade de Taubaté (UNITAU) e publicada no início deste mês no livro “Estudos de Homenagem a José da Silva Costa” pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (Portugal).
Com o tema “Desindustrialização e desenvolvimento regional no Brasil: o caso da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte do estado de São Paulo”, o estudo é assinado pelos docentes e pesquisadores do mestrado de Gestão e Desenvolvimento Regional da UNITAU Prof. Dr. Moacir José dos Santos e Prof. Dr. Edson Trajano Vieira.
“A pesquisa sobre a desindustrialização é importante para compreender o processo de desenvolvimento da região do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Essa é uma região estratégica do ponto de vista econômico e de circulação no Brasil, fica entre as duas principais metrópoles do país e à medida que a desindustrialização atingiu a economia brasileira, ela tem efeitos especiais sobre a nossa região, que tem uma importante atividade industrial. Desse modo, conhecer como esse processo se dá e estabelecer estratégias para enfrenta-la é fundamental”, afirma o Prof. Moacir.
Sobre a importância da publicação da pesquisa pela Universidade do Porto, ele explica que a relevância se dá exatamente pela presença em um veículo internacional, o que mostra a atenção que existe sobre o Vale do Paraíba e o quanto os trabalhos desenvolvidos na Universidade de Taubaté alcançam amplitude.
“Nesse sentido, é importante destacar que a desindustrialização não se restringe ao Brasil. Divulgar e debater como ela ocorre no Brasil e compará-la a outras é fundamental para novas estratégias sejam elaboradas para que a região persevere com seu dinamismo econômico e alternativas de emprego e renda para população”, diz.
O estudo está apoiado em bases de dados públicas e literatura especializada. O objetivo é compreender os efeitos da desindustrialização na Região Metropolitana do Vale do Paraíba entre 2010 e 2019. A interrupção em 2019 leva em conta os efeitos da pandemia da covid-19.
Segundo a pesquisa, os resultados revelam forte retração da economia regional como resultado da desindustrialização. Entre as consequências, a redução do Produto Interno Bruto (PIB) regional, do emprego e do valor do salário médio. Um dos motivos que levaram ao problema seria a falta de políticas públicas efetivas para adequar a atividade industrial às condições produtivas contemporâneas.
Redução do emprego e do salário médio
As cidades da RMVale que concentram as maiores populações e atividades econômicas são as que mais impactaram a trajetória de desenvolvimento regional. São elas São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Caçapava e Cruzeiro que, juntas, concentram uma população de 1.768.973 habitantes, quase 70% de toda a RMVale, que soma 2.599.236 pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022.
O estudo mostra que entre dezembro de 2010 e 2019, a região registrou uma estagnação econômica. Enquanto o país e o estado tiveram um aumento de 2,02% e 0,88%, respectivamente, no total geral de empregos formais, a RMVale teve uma retração de 0,33%. Em 2019 eram 532.054 vagas, número que caiu para 530.296, ou seja, uma variação absoluta de -1.758. A queda foi puxada por São José (-29.118), Taubaté (-7.762) e Cruzeiro (-1.758). Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados em 2022.
Na avaliação da evolução dos empregos formais na indústria de transformação, no mesmo período, os efeitos da desindustrialização na economia nacional e na RMVale são mais perceptíveis. Neste setor, a variação regional negativa (-13,52%) é menor que a do estado de São Paulo (-18,23%), mas superior à brasileira (-12,13). Novamente, a queda absoluta é puxada pelas cidades de São José dos Campos (-9.512), Taubaté (-8.024) e Cruzeiro (-1.454).
Um dos principais impactos da redução dos empregos formais observados pelo estudo é a redução do salário médio dos trabalhadores. Com base nos dados da Fundação Seade de 2022, considerando os preços de 2020, na cidade de Taubaté, o valor caiu de R$ 3.692, em 2012, para R$ 3174, em 2019 (-14,03%). Em São José, no mesmo período, a redução foi de R$ 4.040 para R$ 3.604 (-10,79%). Já em Cruzeiro, os salários reduziram em 5,03%, passando de R$ 3.542 para R$ 3.364.
Considerando apenas os salários médios dos trabalhadores do setor industrial, a redução observada entre 2012 e 2019 foi de -10,92% na RMVale. A maior variação negativa foi em São José dos Campos (-18,45%), passando de R$ 6.671 para R$ 5.440.
“A redução dos empregos formais tem como correspondente a redução do valor do salário médio dos trabalhadores formais. Destaca-se que os valores apresentados foram adequados aos preços de 2020, considerando os efeitos da inflação dos anos precedentes”, diz o Prof. Edson.
Outro ponto a ser considerado, segundo o professor, é que além da redução do quantitativo de empregos formais, há a perda do poder de compra dos salários daqueles que permanecem formalizados e a redução do valor percebido pelos trabalhadores da indústria afeta negativamente as demais atividades econômicas, uma vez que há a queda do poder de consumo dos trabalhadores.
De acordo com o estudo, a condição de produtor de commodities minerais e agrícolas tem alterado o perfil da economia nacional em comparação ao século 20. Os efeitos no território brasileiro são diversos, a depender das condições produtivas presentes em cada região. Na RMVale, cidades com menor integração à economia global, como Jacareí e Pindamonhangaba, por exemplo, onde a indústria de transformação é mais voltada ao mercado interno, os efeitos registrados tiveram menor intensidade.
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Fonte: ACOM/UNITAU