Acabou-se, recentemente, a disputadíssima prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Felicito de coração os candidatos que conseguiram, a duras penas, superar esse desafio. Já passei há décadas por isso e bem sei a alegria que tem um jovem quando, vencendo uma prova difícil, vê seu nome inscrito na lista dos aprovados. Aos que não lograram aprovação, recomendo que não desistam. Também já passei por dificuldades dessas, ao longo da minha vida, e graças a Deus consegui superá-las. Nenhuma grande carreira -nos estudos, na vida profissional, nos esportes, na vida pública- é feita só de vitórias. Os insucessos também contam. Eles nos ensinam a viver. O importante, repito, é não desistir. Nas semanas anteriores à realização da prova, dezenas de funcionários da administração do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), encarregados da realização do ENEM, demitiram-se em conjunto e tudo parecia conduzir a uma situação caótica.
Felizmente, nada disso aconteceu e, ao que parece, o exame decorreu com toda a normalidade. Pessoalmente, vejo com bons olhos a realização de um amplo e unificado exame, válido para todo o território nacional, com a finalidade de aferir o Ensino Médio. Trata-se de um mecanismo de verificação indispensável para uma boa gestão educacional. As variedades regionais são imensas, mas todos os alunos que concluem o Ensino Médio estão, uns pelos outros, colocados numa mesma situação. É compreensível que, para o ingresso no Ensino Superior, façam um exame unificado. É claro que muitos, que não tiveram um bom ensino básico, entram em condições de inferioridade no páreo e não conseguem boa classificação para ingressarem em universidades públicas. Resta-lhes a possibilidade de seguirem cursos superiores privados.
Chegou à situação atual que configura, sem dúvida, uma grande injustiça: quem estudou em boas escolas particulares no ensino fundamental e médio, esse consegue uma boa classificação no ENEM e pode cursar de graça uma ótima universidade; e quem, por ser de condição econômica modesta, fez os estudos básicos na rede pública, somente conseguirá alcançar um diploma universitário de segunda ou terceira linha, e mesmo assim pagando!
Somente quando conseguirmos assegurar, a todos os brasileiros, um ensino básico razoável, conseguiremos superar a atual fase crítica e nos aproximarmos do modelo norte-americano de ensino, que é ao mesmo tempo extremamente liberal (sem entraves e sem controles por parte do Estado) e extremamente eficiente – haja vista o grande número de prêmios Nobel que forma. Lá, os pais educam os filhos como bem entendem, nas escolas que escolhem, ou em casa, se preferirem. Qualquer pessoa pode ingressar em cursos universitários sem comprovar estudos anteriores; basta provar, pelos resultados do exame seletivo, que está apto e a universidade aceita. Qualquer autodidata que comprove conhecimento pode se inscrever em programas de mestrado ou doutorado, mesmo que nunca tenha seguido um curso universitário anterior. Existem universidades em quantidade, nos mais variados níveis, funcionando com total autonomia e sem ingerência estatal. O sistema é completado por uma grande rede de cursos técnicos que formam paramédicos, para engenheiros ou para-advogados.
No Brasil atual, com a cultura predominante de o Estado a tudo controlar e prover, não teria a menor possibilidade de existência um sistema como o americano. É pena.