COLUNA ATIVISMO DIGITAL
ISABELLA SÁ MAZETTI*
Estudante, tem 16 anos e quer ser jornalista
É um fenômeno de grande força nas redes sociais que, com o tempo, passou a ser marcado por características problemáticas. Apesar de inicialmente ser usado pra conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas atuais, esse movimento adquiriu proporções absurdas, tirando, muitas vezes, a credibilidade de grupos que, de fato, lutam por causas que visam à justiça social.
É importante ressaltar que, antes de começar a ser utilizada de forma errônea e fugir totalmente de seu propósito, a cultura do cancelamento contava com diversos aspectos positivos, sendo, inclusive, uma forma usada por grupos minoritários para conseguissem denunciar e expor violações aos direitos humanos.
Em 2017, por exemplo, esse fenômeno permitiu que o movimento “#MeToo” ganhasse visibilidade nas redes sociais, expondo diversos relatos de assédio sexual na indústria de entretenimento, – o que resultou na prisão de muitos abusadores, antes protegidos por sua posição social.
Todavia, como acredita a pesquisadora Anna Vitória Rocha – mestranda em Ciências da Comunicação na USP – a cultura do cancelamento passou a atingir, gradualmente, níveis desproporcionais. Um grande alvo dessa problemática são as celebridades, que, ao serem erroneamente associadas à perfeição, têm toda carreira invalidada por alguma fala ou ação do passado, tendo, dessa forma, seus direitos de errar e aprender anulados.
É necessário encontrar um equilíbrio. Apesar de não ser errado promover a conscientização e corrigir os erros de alguém, é preciso que tais atitudes sejam tomadas com respeito, pois o cancelamento exagerado e invasivo não contribuirá em nada para a mudança nas estruturas que geram esse tipo de comportamento polêmico.
Assim como “gentileza gera gentileza”, a rispidez segue a mesma filosofia, sendo necessária, por parte das organizações educacionais, a adoção de medidas educativas que sejam incentivadas pelas empresas midiáticas nas plataformas digitais, – trabalhando, dessa forma, com o conceito da ética digital e contribuindo pra que as redes sociais sejam estruturas harmoniosas capazes de provocar significativas mudanças.
*O assunto está bastante em pauta por conta do reality Big Brother Brasil.