Santo Antônio, padroeiro da nossa querida Caraguatatuba, é um dos santos mais populares do Brasil. É a ele que a população de nosso país invoca quando passa por alguma aflição, ou por alguma necessidade mais premente.
A Igreja Católica coloca, à disposição dos fiéis, um grande número de santos e santas. Para quê? Por duas razões. Em primeiro lugar, para indicá-los como advogados nossos, no Paraíso. Sendo amigos próximos de Deus, e também amigos nossos, os santos intercedem a Deus por nós, e Deus acolhe de modo especialmente benigno os pedidos que recebe por intermédio deles.
Em segundo lugar, os santos são modelos de vida propostos aos fiéis. Suas vidas oferecem exemplos para serem admirados e, quando possível, imitados. Por isso mesmo, é enorme a variedade de santos e santas, de tal modo que todos os fiéis sempre encontram algum ou alguma que “se encaixa” bem na sua condição, com a sua profissão, com a sua individualidade.
O advogado tem em Santo Ivo um colega muito respeitável; o pescador se lembrará de seu colega São Pedro; o militar se recordará de Santo Expedito ou de São Sebastião, que também serviram no exército romano; o motorista invocará São Cristóvão; a musicista ou cantora se dirigirá a Santa Cecília; a mulher cujo marido é infiel, ou que a maltrata, encontrará em Santa Rita uma intercessora que, enquanto viveu, sofreu e superou os mesmos problemas que ela. E assim por diante.
O caso de Santo Antônio é muito especial. Por uma misteriosa comunicação de afetividade entre o Tempo, no qual vivemos, e a Eternidade, onde ele já está, todos nos sentimos compreendidos e amados por ele; e por isso mesmo o invocamos e pedimos sua ajuda nas mais variadas circunstâncias.
Em Portugal, ele é venerado como Santo Antônio de Lisboa, para indicar a cidade em que nasceu e, assim, acentuar que é um santo bem português. No Brasil colonial e durante o Império, assim também ele era invocado tradicionalmente. Depois da proclamação da República, quando começaram a vir para o Brasil, em grande número, religiosos italianos, a tendência foi divulgar mais o título de Santo Antônio de Pádua. Mas o Santo é o mesmo, a todos ele atende, a todos ele ampara.
A devoção a Santo Antônio é muito diversificada. Assume formas diferenciadas. Por exemplo, existe a famosa Trezena de Santo Antônio, geralmente rezada no início de junho, nos treze dias que antecedem sua festa litúrgica. São orações que, durante 13 dias seguidos, os fiéis fazem a Santo Antônio, ao mesmo tempo invocando-o e homenageando-o no seu mês.
Existe a devoção do “pão de Santo Antônio”, um pão bento que é distribuído nos dias 13 de cada mês nas igrejas de Santo Antônio e nos conventos franciscanos do mundo inteiro; e o “bolo de Santo Antônio”, um bolo bento que é vendido ao povo no dia do Santo, para angariar fundos a serem usados na caridade com os pobres. São formas de honrar o Santo e, simultaneamente, lembrar aos fiéis o dever moral que têm de fazer caridade junto aos menos favorecidos.
Outra devoção muito antiga e ainda hoje praticada é a do famoso “Responsório de Santo Antônio”. Em latim, “responsum” significa resposta. Responsório é uma palavra de sentido plural, significando conjunto de respostas. Liturgicamente, o responsório é uma oração longa, muitas vezes ritmada e rimada, própria para ser rezada por dois coros, à maneira de diálogo, de tal forma que um deles responde sempre ao que o outro perguntou, ou desdobra o pensamento que o outro expôs.
O responsório de Santo Antônio foi composto em latim, há séculos. E em todas as línguas europeias existem traduções dele, seguindo os costumes literários dos vários povos, mas mantendo fidelidade ao pensamento original. No Brasil, existem várias versões dessa tradução, geralmente feitas em quadrinhas populares, em redondilhas maiores, ou seja, em versos de sete sílabas cada um. É um tipo de composição literária popular, muito usado em Portugal e no Brasil. Veja-se uma das versões correntes:
“Se milagres desejais, / Recorrei a Santo Antônio; / Vereis fugir o demônio / E as tentações infernais.
“Recupera-se o perdido, / Rompe-se a dura prisão / E no auge do furacão / Cede o mar embravecido.
“Todos os males humanos / Se moderam, se retiram, / Digam-no aqueles que o viram, / E digam-no os paduanos.
“Recupera-se o perdido, / Rompe-se a dura prisão / E no auge do furacão / Cede o mar embravecido.
“Pela sua intercessão / Foge a peste, o erro, a morte, / O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo são.”
Esse famoso responsório resume, em breves palavras, as numerosas “especialidades” de Santo Antônio. Você provavelmente já o ouviu rezado em alguma igreja de Santo Antônio. E provavelmente vai ouvi-lo novamente se for, como eu vou, a alguma igreja de Santo Antônio no próximo dia 13. Afinal, ele é o nosso padroeiro, o protetor de Caraguatatuba…
(*) Álvaro Alencar Trindade é advogado e empresário.
E-mail: alvaroalencartrindade@gmail.com