Passamos pelo dia 21 de abril, feriado nacional consagrado à memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Eu estava pesquisando para escrever um artigo em sua homenagem, apesar da escassez de material histórico sobre este brasileiro que é um misto de herói e mito nacional, o que é compreensível.
Foi, como é bem sabido, o único dos implicados na Inconfidência Mineira cuja pena não foi comutada. Os condenados à morte, nos autos processuais do abortado levante de Minas foram vários. Somente Tiradentes foi enforcado, de modo solene e até espalhafatoso, no Rio de Janeiro e seus restos mortais, após a decapitação e esquartejamento, foram expostos “para escarmento dos povos” – como determinavam as Ordenações Filipinas para os réus condenados por crimes de lesa-majestade.
A vida de Tiradentes, durante quase um século ficou completamente esquecida. Somente depois da proclamação da República, em 1889, o novo regime exaltou sua figura e o elevou ao nível dos grandes heróis da nacionalidade, como precursor e Mártir da Independência.
Segundo José Murilo de Carvalho, em “O imaginário da República no Brasil” (obra lançada em 1990 e premiada com o Jabuti), Tiradentes muito provavelmente não usava barbas e, em qualquer caso, se as usava, elas foram raspadas antes da execução, como era costume fazer com os condenados ao enforcamento, mas seu “retrato oficial” com longas barbas foi criado e propagado nos primeiros anos da República com a intenção explícita de fazê-lo parecido com Jesus Cristo, reforçando assim sua fama de mártir inocente da causa pela qual deu a vida.
De Tiradentes, sabe-se com certeza o local em que nasceu e foi batizado, graças aos perenes registros da Igreja Católica; sabe-se igualmente que era alferes, ou seja, oficial de milícias, que possuía bens, que durante algum tempo exerceu a profissão de tropeiro, transportando mercadorias e fazendo comércio, e que nas suas andanças pelas vilas e aldeias era admirado pelo seu talento como dentista prático. Daí a alcunha “Tiradentes”, com que passou para a História.
Segundo consta, sua especialidade não era tanto a de tirar dentes, mas pelo contrário, era a de colocar dentes. Parece que demonstrava habilidade para esculpir dentes com ossos de boi, fazendo próteses que “fechavam janelas” nas bocas dos seus clientes. Era um procedimento muito antigo, já praticado no velho Egito, como demonstrou o exame de múmias, que requeria muita habilidade.
Tiradentes é muito mais do que um simples ato de “recriação da nossa origem”. É um dos nossos mártires da luta pela liberdade nacional. É mais do que justo, é perfeito, cultuarmos e honrarmos sua memória e seu sacrifício. Tiradentes vive em cada um dos brasileiros que amam as liberdades democráticas!!!!