O risco de um problema gigante se tornar “invisível” incorporando-se ao nosso dia a dia, infelizmente é “normal”. Existem diversos experimentos sociais que comprovam essa teoria. Em um deles, é colocado um enorme vaso de plantas (sem planta) no corredor de uma empresa, obstruindo parcialmente a passagem dos funcionários que por lá circulavam. Nos primeiros dias, a maioria dos colaboradores reclamou, indignados e chamando a atenção da administração quanto ao fato do vaso estar atrapalhando a passagem.
Propositadamente, a administração não tomou conhecimento das reclamações, não dando qualquer resposta ou satisfação aos reclamantes; e assim em 3 semanas as reclamações caíram pela metade e após de 2 meses apenas 10% dos funcionários ainda se incomodavam e reclamavam do tal do vaso. Problema gigante sem resolução, no entanto “resolvido” pela inércia da administração e comodismo dos funcionários.
Trazendo agora o experimento social para nossa cidade de Caraguatatuba, “os vasos” são os moradores em situação de rua, os funcionários somos nós, e a administração, a Prefeitura e a Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania. Infelizmente é público e notório que o problema social de seres humanos em situação de rua não é localizada e foi bastante agravada pela pandemia e pela atual política higienista dos governos Estaduais e Federal. No entanto, não podemos fingir que o “vaso” não existe.
O fato é que Caraguatatuba está virando um dormitório a céu aberto. Todos os Monumentos Históricos, praças e fachadas de comércio estão “abrigando” moradores em condição de rua. O Centro da Cidade transformou-se num grande albergue e a situação aparentemente piora a cada dia.
Sei de toda a dificuldade por parte do poder público em lidar com a situação, como também tenho plena noção de que é mais fácil ser pedra do que vidraça. Muitos moradores não aceitam a remoção para os albergues públicos por N motivos. Eu mesmo, juntamente com minha esposa e amigos, fizemos por anos o trabalho social de levar quentinhas e roupas para os moradores em condição de rua e percebemos que o problema é extremamente complexo.
E justamente por entender a complexidade da situação, seria desonesto colocar toda a culpa “nas costas” do poder público, mas igualmente desonesto desonerar sua responsabilidade na resolutividade do problema.
Assim, sem fazer aqui nenhum juízo de valor, creio que se faça necessário um olhar mais profissional, técnico e humano por parte do Poder Público Municipal (Prefeitura, Câmara e Secretarias) e uma ação mais contundente em políticas públicas sociais e habitacionais, visando a recuperação da dignidade das pessoas em tal condição e a preservação do patrimônio público.
Um vaso sem flores, perde sua utilidade e seu encanto.