
Em cartaz em diversos cinemas pelo Brasil, o longa-metragem “Anna”, escrito por Nara Chaib Mendes e Heitor Dhalia, que também dirige, retrata a obsessão em duas pontas: antagonista e protagonista se mesclam com o mesmo objetivo de perfeição, mas focados cada um em si. A trama, que traz uma remontagem da peça Hamlet, de Shakespeare, apresenta a gana da atriz Anna de viver a renomada Ofélia. Do outro lado, o polêmico e respeitado diretor Arthur, que busca realizar a melhor releitura já vista da obra.
“Ver a história de Anna hoje nos cinemas é uma vitória. É um assunto muito difícil, terrível, porém necessário. Conheci e conversei com muitas Annas, jovens artistas que viveram situações extremamente desestabilizadoras em silêncio, com medo de falar. Espero que o filme, que se propõe a ser um desagradável espelho, ajude as pessoas a identificarem situações abusivas, que jovens artistas saibam que o que Anna vive não é normal. Não pode ser normal. Há muitos caminhos de se fazer arte com alta complexidade e nenhum deles precisa passar pelo abuso físico, psicológico, moral ou sexual”, comenta Nara.
O filme apresenta um renomado diretor que, por muitas vezes, por meio do medo e tantas exigências, impõe respeito aos atores. Pressionado pela produção executiva a fechar o mais breve possível o elenco de Hamlet, deixa seu ego gritar mais alto em busca dos protagonistas perfeitos – que talvez nunca encontre, uma vez que existem apenas dentro dele. Enquanto Anna, uma jovem e tímida atriz causa curiosidade dos colegas quando declara o desejo de interpretar a desafiadora Ofélia e sua paixão doentia pelo príncipe que intitula a peça.
“Um processo artístico muitas vezes pode ser, sim, doloroso, uma vez que precisamos mergulhar e investigar lugares muito profundos da natureza humana. Mas essa dor não deve estar relacionada a um diretor, companheiro de cena ou um preparador de elenco “em nome da arte”. O mergulho é na alma do personagem. Para isso se usa a matéria da vida, a imaginação (o nosso “músculo” mais poderoso), a “bagagem” das próprias vivências, referências sociais e culturais”, reflete a autora. “Na arte (e em nenhum lugar) tem espaço para o abuso. Essa ideia torpe, que por anos serviu de desculpa para abusadores saciarem os seus egos destruindo caminhos de futuras artistas e, infelizmente, por vezes até vidas, precisa acabar. É triste ainda precisar dizer o óbvio. Mas fico feliz por saber que estamos tendo cada vez mais espaço para expor isso. Seguimos fortes, continuaremos até mudar essas estruturas de uma vez por todas. A arte é o local da salvação e não da destruição.”

Sobre Nara Chaib Mendes
Nara Chaib Mendes, atriz, preparadora de elenco e roteirista. Escreveu o roteiro do filme “ANNA” em parceria com o diretor Heitor Dhalia. Formação: CPT/Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho (2004-2018). Audiovisual: Séries- Psi (4 temp.) eps 7 e 8 – Pers. “Bete” (HBO), dir. Caroline Leone; “O Caçador”- ep. 7 (Globo); “Carcereiros” ep 10 (2 temp); “O Negócio” ep. 4 (4 temp). Filmes- “Anna”, dir. Heitor Dhalia- pers. “Mariana”; “Meu Amigo Hindu” dir. Hector Babenco, pers. “Nurse”; “SP é uma festa”, dir. Vera Egito, pers “Nara”; “Zoom”, dir. Pedro Morelli; Clipe “Moon”, Thiago Pethit, dir. Heitor Dhalia. Teatro- Protagonizou a peça “Marguerite Mon-Amour”, pers. “Marguerite Duras”, Dir. Emerson Danesi, coord. de Antunes Filho. Prêt-à-Porter 10 e Prêt-à-Porter 7, no CPT, de Antunes Filho. “A Pedra do Reino”, dir. Antunes Filho; “Senhora dos Afogados”, dir. Antunes Filho. Performance audiovisual “Tresirmas Soundscape” (“Três Irmãs”, Tchekov), pers. Irina. Dir. Alvise Camozzi. Bacharel em Artes do Corpo, estudou dança, teatro e performance. Deu aulas no CPTzinho de atuação, corpo e voz. Tmb é dramaturga e roteirista, escreveu o filme “Anna” com o diretor Heitor Dhalia, escreveu muitas peças de um ato e atualmente escreve uma série ainda independente. É Preparadora de atores, preparou alguns elencos, entre eles o da série “Carcereiros”(Tv Globo), e da série “Irmandade” (NetFlix) . Apresenta o Canal do YouTube: “Afinal o que somos nós”.
Sobre o diretor
Diretor e sócio da produtora Paranoid, Heitor Dhalia já em seu primeiro longa- metragem, Nina (2004), ganhou uma menção especial da crítica no Festival de Moscou e o prêmio de fotografia no Festival de Cinema Latino-Americano de Lima. Em 2006, dirigiu o filme O Cheiro do Ralo, que participou da seleção oficial do Festival de Sundance, ganhou o prêmio especial do júri, o prêmio da crítica e o de melhor ator no Festival do Rio e, ainda, o Troféu Bandeira Paulista do júri internacional, na 30a Mostra Internacional de São Paulo. Com À Deriva (2009), Dhalia participou da Mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes do mesmo ano. Em 2011, assinou a direção da produção hollywoodiana Gone, estrelada por Amanda Seyfried. Além de dirigir seu longa-metragem Serra Pelada, lançado em 2014, também foi responsável pelo roteiro do filme que contou com Wagner Moura, Sophie Charlotte e Matheus Nachtergaele no elenco. Dhalia já ganhou mais de 13 prêmios e foi nominado em mais de 16 indicações em festivais ao redor do mundo. Em 2017, lançou o seu primeiro documentário – On Yoga:The Architecture of Peace, que teve sua estreia mundial no Raindance Film Festival e foi selecionado para o Festival Do Rio, Mostra Internacional de São Paulo e Camerimage. Em 2018 lançou Tungstênio, adaptação da premiada história em quadrinhos homônima de Marcelo Quintanilha. Atualmente, dirigiu a série Arcanjo Renegado, que se prepara para a segunda temporada, e teve sua estreia no início de 2020 na GloboPlay. Além da série, em 2021, Heitor vai lançar seus novos longas-metragens ANNA e Invisible, produção americana filmada em Nova York.