Nós, brasileiros que vivemos neste mês de setembro de 2022, seremos testemunhas da celebração do segundo centenário da Independência. Há nações que nem sequer sabem ao certo quando tiveram início, pois suas origens se perdem nas brumas da memória histórica, ou até mesmo nas incertas regiões dos mitos de origem.
O Brasil, desse ponto de vista, é muito privilegiado. Sabe exatamente o dia de abril de 1500 em que nasceu, porque a famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, o Venturoso, preservada no arquivo da Torre do Tombo, em Portugal, comprova documentalmente o desembarque de Cabral. E sabe exatamente o dia em
que alcançou a maioridade plena, a 7 de setembro de 1822, com o famoso brado retumbante do Príncipe D. Pedro, que se transformou em nosso Imperador Pedro I.
Em 1922, no Primeiro Centenário, foram grandiosas as comemorações. Agora, apesar das dificuldades conjunturais do momento em que vivemos, agravadas de algum modo pelo fato de estarmos em plena campanha eleitoral, também se está procurando fazer uma celebração à altura. O simples fato de
o coração de D. Pedro ter saído pela primeira vez da Igreja da Lapa, na cidade do Porto, onde repousa há 183 anos, para vir visitar o Brasil, é um acontecimento de imenso alcance simbólico.
A partir da segunda metade do século XIX, generalizou-se na Europa o costume de, em certas datas especialmente significativas, serem encerrados, em uma lata hermeticamente fechada e protegida contra a
umidade, documentos e escritos, os quais somente deveriam ser abertos um século depois. Essas latas eram enterradas em local bem conhecido e assinalado por um monumento, ou emparedadas, ficando colocadas dentro de uma parede cimentada. Eram verdadeiros memoriais que os membros de uma geração deixavam para seus netos ou bisnetos.
A abertura dessas “cápsulas do tempo” sempre se reveste de muita expectativa e solenidade. Elas proporcionam, também, ocasião adequada para uma reflexão coletiva: até que ponto os anseios de nossos antepassados foram atingidos? Em que medida seus prognósticos se realizaram?
Geralmente, quando se abre uma cápsula do tempo, no mesmo ato se coloca no mesmo local uma nova, para ser aberta 100 anos depois. No Brasil, em 1922, no primeiro centenário da Independência, numerosas cápsulas do tempo foram instaladas em diversos pontos do país, e devem ser abertas agora.
Geralmente o noticiário a respeito é apenas local, de modo que a grande imprensa silencia esses acontecimentos. Mas fiquei sabendo que na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, a cápsula do tempo instalada a 7 de setembro de 1922 no hall de entrada da tradicional Escola Sud Menucci, uma das mais antigas e prestigiosas de todo o Estado, vai ser aberta. Não apenas no ambiente escolar, mas em toda a cidade está
sendo muito grande a movimentação em torno do acontecimento.
Continua na próxima edição.
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