A peça teatral ‘Crioulos’ acontece neste sábado (27) e domingo (28), às 20h, no Teatro Municipal de São Sebastião. Com entrada franca, o grupo também chamado ‘Crioulos’, de São Paulo, chega com seu diretor, ator, e dramaturgo, Caio D´aguilar, nascido e criado na cidade.
A peça mescla temas históricos e fictícios da negritude gerando debates por meio de discussões de cunho social. ‘Crioulos’ vem para São Sebastião por meio da Circulação pelo edital PROAC do estado de São Paulo. Com classificação indicativa a partir de 12 anos, é aberta à todos os públicos.
Sinopse da peça
A peça mescla temas históricos e fictícios da negritude, numa viagem que aborda desde fantasmas da Ku Klux Klan, Gorilas, à temas como os efeitos da segregação racial, pela narrativa e ótica do personagem – Crioulo – um jovem que perde seu pai, um ativista das causas sociais, morto por policiais milicianos. Com situações cômicas, ácidas a partir de histórias que revisitam décadas de preconceito, violência, conflitos de raças e identidade, “CRIOULOS” é uma crítica mordaz a respeito das questões raciais tão presentes nos dias de hoje, abordando justamente as semelhanças entre as lutas da Cultura Negra do Brasil e Estados Unidos.
Projeto Crioulos
Criado e idealizado em 2018 pelo diretor, ator e dramaturgo Caio D’aguilar, o grupo PROJETO CRIOULOS é formado por artistas negros e negras, com foco em narrativas de autores contemporâneos e obras inéditas como a peça CRIOULOS, que teve temporada e estreia em 2020 no Sesc Santo Amaro, Sesc Santos e Sesc Interlagos. Além de criações na linguagem de audiovisual como o projeto de curtas metragens “CENAS PRETAS”. Seguido disso o grupo foi ganhador dos editais de cultura em 2021 – FOMENTO AO TEATRO, LEI ALDIR BLANC e PROAC CIRCULAÇÃO. A partir de um repertório com composições fortes, intensas, cômicas, carregadas de críticas ácidas, gerando debates a partir de discussões de cunho social.
Estética de Crioulos
A Dramaturgia carrega referências do escritor James Baldiwn, Angela Davis, Conceição Evaristo entre outros, do cinema de Jordan Pelee, e do comediante Dave Chapelle, ao rapper Tyler The Creator e pintor Basquiat. A peça se situa num cenário que reproduz uma área rural dentro da área urbana em formato de encruzilhada, com figurinos unindo o tradicional ao contemporâneo como palhas usadas em rituais do candomblé, a figurinos que relembram os anos 50, usando um telão de fundo como uma TV que projeta imagens diversas como dos grandes ícones negros brasileiros Grande Otello e Tião Macalé, a imagens como furos realistas das passagens e conflitos raciais do Brasil, como o caso de Sandro do ônibus 174, do Rio de Janeiro, junto a pinturas do Navio Negreiro de Rugendas.
A trilha sonora que mescla músicas antigas da era Disco Black americana ao Samba brasileiro como da banda ‘Originais do Samba’ do comediante negro Mussum, com ruídos permanentes de tiros que representam genocídio da população periférica e sua vulnerabilidade, criando uma estética irônica e singular com potencial ilimitado acerca do tema ‘Racismo’, numa crítica mordaz entrelaçando a realidade brasileira, a momentos políticos importantes da história da população negra estadunidense, como por exemplo citando discursos do ícone político Martin Luther King.
Ficha Técnica
Texto e Direção: Caio D’Aguilar
Elenco: Anderson Negreiro, Ilunga Malanda, Caio D’aguilar, Fernanda Ross, Diogo Cintra, Balbino de Paula e Carlos De Niggro
Luz: Junior Docini e Renato Banti
Figurino: Adélia Well e Maiwisi Ayana
Cenografia: Diego Machado Conselheiro e Eduardo Silva
Preparador Corporal: Boogaloo Begins (Thiago Silva)
Arte e Designer: Luciano Angelotti e Gênilson Junior
Som: Marcos Fêlinto
Fotografia Divulgação: Vitor Pickersgill Vj e Mário Alves
Produção Executiva: Taynã Marquezone, Anderson Negreiro e Caio Daguilar
Uma breve reflexão: por Felipe Riela
Caio D´aguilar, se dedicou há vários tipos de fazer teatral, desde comédia a tragédia grega, inúmeras vezes, ainda vivendo em São Sebastião, levou entretenimento e reflexão à população da cidade ‘sedenta’ por arte de qualidade, produzida e articulada, por artistas locais.
São Sebastião ficou pequena para Caio. A cidade sempre foi pequena para Caio, e agora ele volta – ele sempre volta – para mostrar que a Administração da Cultura da cidade perdeu uma personalidade única, e que poderia ser fundamental para uma construção artística mais múltipla numa cidade com grande potencial inexplorado devido à má gestão cultural histórica que faz parte de um projeto nacional antiarte.
Mas, a arte sobrevive através de corpos como o do Caio, e de muitos outros artistas, que estão, ou não, na cidade, compreendendo que, arte é política, é cultura, é educação – é meio e não fim. Arte pode ser política, pode ser cultura, pode ser educação, mas antes de qualquer coisa arte é Arte, e precisa ser valorizada como tal.