Por Cléverton Santana e Lilás Comunicação
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, no Brasil, há pelo menos 32 mil famílias homoafetivas formadas por duas mães (53,8% do total). Vanessa Feitosa, coordenadora de operações de Trade Marketing da Gi Group Brasil, filial da multinacional italiana de recursos humanos, faz parte dessa estatística e, junto com a esposa, Ana Rezende de Brito, buscam um mundo livre de preconceitos para crescer profissionalmente e criar os filhos.
Apesar de viver em um país onde mais de 60% dos empregados LGBTQI+ preferem esconder sua identidade sexual no trabalho (pesquisa divulgada pelo Center for Talent Innovation), Vanessa nota uma melhora no ambiente.
“No mundo corporativo, creio que este tema já está mais presente, até porque não podemos ter medo de falar que somos mães LGBTQI+ e mostrar o quanto nos motiva a trabalhar pelos filhos”, acrescenta.
O caminho para as mães LGBTQI+ ainda é longo e lento em busca da igualdade. Em um emprego anterior, Vanessa relata que foi desligada por questões relacionadas à família.
“A Ana teve um aborto espontâneo na primeira inseminação que realizamos e ouvi do meu gestor que, infelizmente, não poderia seguir com uma pessoa que estava tentando ser mãe e poderia passar por mais momentos como esse”, relembra.
A regularização do registro de dupla maternidade já é um avanço para essas mulheres, pois ficou mais fácil justificar as barreiras que antes existiam no âmbito profissional e pessoal. Mas o maior desafio, na opinião de Vanessa, continua sendo não deixar que o mundo influencie as crianças com os preconceitos ainda existentes.
“Para mim, o mais importante é mostrar aos meus filhos que são amados em dose dupla ao ponto de suprir qualquer lacuna que a sociedade acha que exista”, defende a coordenadora de operações.
Um ponto positivo do relacionamento LGBTQI+, que serve de lição para que toda mulher possa produzir mais e melhor em casa e profissionalmente, é a melhor distribuição das tarefas, diferentemente do que acontece em relações heteroafetivas, em que as mulheres se sentem sobrecarregadas com duplas e até triplas jornadas.
“Dividir as tarefas e contas, os serviços da casa, arrumar o carro (uma função considerada somente para homens), torna o dia a dia mais leve, até dá tempo de se cuidar e brincar com os filhos após um dia extenso de trabalho”, conta Vanessa.
Além disso, Vanessa observa que ainda a divisão igualitária das tarefas, o como cuidar das birras do bebê, lidar com os conflitos do filho adolescente para ajudá-lo a se encontrar, ajuda as mães, exige muito das mães que precisam de todo apoio para desempenhar seu papel em casa e manter a estrutura psicológica para enfrentar os desafios no trabalho.