Dr. Álvaro Alencar Trindade
A Prefeitura de Caraguatatuba vai prestar oportuna homenagem a Santo Antônio, padroeiro de nossa cidade, inaugurando no próximo dia 11 de junho uma nova imagem sua no Morro de Santo Antônio – que constitui local potencialmente muito forte como atração turística, mas até agora não aproveitado como deveria.
Caraguatatuba não é a única cidade que tem o Santo português como seu patrono. Na verdade, é apenas uma entre dezenas de outras que não têm o nome de Santo Antônio. Mas, na região, temos Paraibuna, Arapeí, Guaratinguetá, Cachoeira Paulista. Outras como Piracicaba, por exemplo, não leva seu nome, mas tem Santo Antônio como seu padroeiro oficial. Também Campo Grande-MS, Juiz de Fora-MG, Bento Gonçalves-RS, Barbalha-CE, Curvelo-MG, Volta Redonda-RJ e outras mais são municípios oficialmente colocados sob a proteção do mesmo santo.
O grande folclorista potiguar Luiz Câmara Cascudo, falecido em 1986, calculou que no Brasil pelo menos setenta localidades tinham o nome de Santo Antônio. Segundo pesquisa realizada em 1973 por Laura Della Mônica (que foi discípula e colaboradora de Câmara Cascudo e lecionou Folclore e Pesquisa Musical na PUC de Campinas), existem no Brasil 65 municípios, cidades ou distritos com o nome do santo, além de 7 rios, 7 cachoeiras, 2 ilhas e 5 serras.
Na onomástica política e na toponímia brasileira, pois, a presença antoniana marca o Brasil de norte a sul. Isso, sem falar nas numerosas igrejas erigidas com sua invocação em todo o Brasil: somente na Arquidiocese de São Paulo existem 16 paróquias de Santo Antônio; na área que vai de Santa Catarina ao Espírito Santo, são 158 as igrejas consagradas a ele; e em todo o Brasil, de acordo com dados oficiais da Igreja Católica, são cerca de 550 as igrejas de Santo Antônio.
Na piedade popular, depois de Nossa Senhora, sem dúvida Santo Antônio é o mais popular dos Santos, aquele de quem os brasileiros mais imediatamente se lembram quando, diante de alguma dificuldade ou aflição inesperada, sentem necessidade psicológica de recorrer ao sobrenatural. Isso acontece em todas as situações possíveis e imagináveis. A jovem (ou a não-jovem…) que deseja encontrar um bom marido, recorre a Santo Antônio, o “casamenteiro”; a pessoa que perde um objeto e precisa encontrá-lo, invoca o mesmo Santo, famoso como “restituidor de bens perdidos”; o doente desenganado pelos médicos, a quem invoca? A Santo Antônio, “taumaturgo e milagreiro”.
O que é menos conhecido dos brasileiros de nosso tempo é que, além de todos esses predicados e títulos honoríficos, Santo Antônio teve uma “carreira militar” brilhante.
Na vida real, Santo Antônio nunca foi militar. Foi, como é bem sabido, sacerdote e religioso. Em Portugal, sua terra natal, professou como religioso agostiniano. Transferiu-se depois para a Itália e ingressou na Ordem Franciscana, que acabava de ser fundada por São Francisco de Assis. Depois de alguns anos pregando na Itália e na França, morreu em 1231, ainda jovem, com apenas 36 anos de idade.
A “carreira militar” de Santo Antônio não foi realizada, portanto, em vida. Mas o foi após sua morte. Tanto em Portugal como no Brasil, estabeleceu-se o costume de invocar o Santo em situações militares graves e difíceis, quando a paz se encontrava ameaçada por adversários perigosos. Depois de alcançada a vitória, atribuída à intercessão do santo, as autoridades civis e militares concediam a ele um posto militar e passavam a pagar, ao convento ou igreja de franciscanos mais próximo o soldo relativo àquele posto. O dinheiro, tradicionalmente, era usado pelos franciscanos para ajudar os pobres da região. Isso se deu, repito, em Portugal e em várias partes do Brasil. Em alguns locais, desenvolveu-se o costume de colocar, na imagem do santo venerada no local, as insígnias e dragonas do posto. Em alguns locais, até a espada correspondente era colocada no altar.
Em Portugal, no século XVII, Santo Antônio ingressou como soldado raso, mas foi promovido sucessivamente, nas guerras que se seguiram nos dois séculos seguintes, e chegou ao posto de General em 1810, quando os portugueses venceram a batalha do Buçaco contra os invasores franceses.
No Brasil, a carreira militar do Santo se cobriu de glórias na luta contra a invasão holandesa e prosseguiu no século XVIII, quando pelo menos duas vezes ocorreram tentativas de invasões francesas.
Se em Portugal atingiu o generalato, no Brasil Santo Antônio não foi tão longe, chegando apenas ao posto de Tenente-Coronel, conferido por D. João VI em 1814. O soldo deste último posto foi religiosamente pago até 1911, já em regime republicano. Alguns anos depois, em 1924, o Presidente Artur Bernardes assinou despacho passando oficialmente Santo Antônio para a reserva do Exército brasileiro. Como oficial superior na reserva permanece ele até hoje.
(*) Álvaro Alencar Trindade é advogado e empresário.
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